terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

FERNANDO PESSOA



III – Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E por deante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão signala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é portuguez.

E a cruz ao alto diz que o que me ha na alma
E faz febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.


Fernando Pessoa - 13-09-1918

Um comentário:

  1. Várias são as rotas, vários os portos, mais variadas ainda as formas de navegar. Mas portos seguros, de braços abertos, são raros.Estes, ei de encontrar!

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