
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flôres, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa – 1935
(Nota de Roogle – D. Sebastião foi o Rei Português que morreu nas cruzadas na batalha de Alcácer-Quibir em 1578, então com 24 anos. Como o seu corpo não foi encontrado, sempre se esperava que retornasse).
Hoje mais do que nunca estou precisando dessa liberdade "pessoniana", de descobrir nas coisas simples, ou no "nada", meu prazer...bjs
ResponderExcluirNada como a liberdade! De ser, de estar, de pensar...
ResponderExcluir(Bom lembrar que O Poeta também sente peguiça como se fosse um comum mortal)
Parabéns pelo blog!
Bj